25 de ago. de 2013

A Última Herdeira: I


Curitiba - 28 de março de 2006
   
   -Luana, onde você está? Eles estão chegando, precisamos ir agora!
   -Eu sei Roberto! Mas... ela é minha filha, não quero deixá-la!
   -Ela também é minha filha, mas precisamos ir! Já levei suas coisas para o carro, e o Augusto já está lá!
   Luana e Roberto foram correndo para o carro que estava parado na frente de sua casa. Era tarde da noite, e Roberto dirigiu o mais rápido que pode. Ele só conseguia ouvir sua mulher e seu filho chorando no banco de trás. Era uma situação complicada, nem ele estava conseguindo controlar suas lágrimas. Parou quando chegou na frente de uma bela casa azul claro de dois andares, com um portão branco.
   Luana desceu do carro, e tocou a campainha da casa, viu que uma das luzes do andar de cima foi acesa. Antes de deixar sua filha de apenas três dias de vida na calçada, admirou seu delicado rosto, e acariciou alguns tufos de seus cabelos pretos. Ela sabia que nunca mais a veria na vida.

16 anos depois...

   Fazia um típico dia nublado e fresco no mês de setembro em Curitiba. Manuela abriu os olhos e olhou seu quarto de uma maneira que ela nunca tinha feito. Uma das portas de seu gurda-roupa estava um pouco aberta, e dava pra ver que seu cobertor mais grosso estava quase caindo. Sua escrivaninha estava do jeito de sempre: algumas canetas estavam dentro de uma latinha cheia de adesivos, tinha uma pasta com suas provas dentro, do lado esquerdo do computador que estava ligado. Ela esqueceu de desligar na noite anterior. 
   Era um belo quarto. A cor das paredes era amarelo claro, e a parede que ficava a cabeceira de sua cama, era cheia de fotos e pôsteres de bandas, livros e filmes que ela gostava. No centro do quarto, havia um tapete azul claro, que combinava com sua cortina. Seu guarda-roupa, sua cama e sua escrivaninha eram brancos e sua colcha era azul claro. Na parede que a escrivaninha ficava, havia uma prateleira cheia de livros, e outra cheia de dvds.
   Manuela estava se sentindo diferente. Parecia que tinha tomado uma super vitamina que a deixou dez vezes mais forte. Era como se naquele dia, tudo fosse possível. Ela levantou e foi se arrumar para ir para a escola. Quando se olhou no espelho, se achou muito bonita. Era magra e nem alta, nem baixa. Tinha a pele branca e longos cachos negros. Seus olhos eram verdes tão escuros, quanto ao verde das folhas da árvore que tinha na frente de sua casa.
   Desceu as escadas e foi para a cozinha tomar café da manhã junto com seu irmão mais novo, Gabriel. Ele tinha onze anos, era magro, alto para a sua idade, e seus cabelos eram lisos e escuros. Ele era um menino muito agitado, tinha hiperatividade. Os dois eram melhores amigos, e não tinham segredos um com o outro.
   -Bom dia Biel!
   -Oi Manu! Vai querer leite? E margarina? Ou prefere geleia?
   -Calma aí, seu doido! Respira, e fala mais devagar. Espera, não guarda o leite, eu vou querer, e a margarina também!
   -Você fala muito devagar, sabia? Demorou demais, já guardei!
   -Que ótimo...
   -Você está mais bonita hoje. Passou maquiagem? Mudou o lado do cabelo? Não, sempre foi desse lado! O que você fez na cara? Fala logo!
   -Se deixar eu falar, né?! Eu não fiz nada na cara, e valeu pelo elogio. Hoje estou me sentindo forte, poderosa, sei lá!
   -Tá tomando alguma coisa? Haha eu sei que não!
   -Bom dia crianças! já estão prontos? - Disse Silvia. Ela era a mãe de Manuela e Gabriel. Uma mulher muito bondosa, extraordinariamente justa e inteligente. Os cabelos eram castanhos e curtos, e ela usava um óculos com armação vermelha, que já era a sua marca registrada.
   -Quase, mãe. Quase.- Disse Manuela.
   -Então enquanto não terminam, vou ver a previsão do tempo. - Silvia nunca saia de casa sem ver a previsão do tempo.
   Ela saiu da cozinha, e Manuela e Gabriel se olharam de um jeito carinhoso, igual sempre se olhavam quando a mãe dizia que ia olhar a previsão do tempo. Manuela foi se levantar, pois tinha terminado de comer, quando sem querer bateu o cotovelo na caneca de seu irmão, derrubando o leite na camiseta dele.
   -Olha o que você fez! Era a minha última camiseta de uniforme limpa! E a mamãe colocou a outras pra lavar!
   -Desculpa, foi sem querer, Biel! Eu vou pegar um pano pra limpar o chão.
   -Um pano não vai limpar minha camiseta!
   Nesse momento, Manuela olhou fixamente para a camiseta molhada, e pensou nela se secando. Ouviu seu irmão dizer alguma coisa, mas estava tão concentrada na camiseta, que nem prestou atenção.
   -O que está acontecendo aqui? Por que você está gritando, Gabriel?
   -Nada não, mãe! Eu só me empolguei aqui com uma coisa.
   -Então pare de gritar igual a um maluco, e termina logo de comer!
   Silvia saiu da cozinha, e só então Manuela viu que a camiseta de Gabriel estava seca, o chão também estava seco, e o leite estava dentro da caneca, como se nada tivesse acontecido. Os dois se olharam assustados. Manuela não sabia o que havia acontecido, mas sabia que não apenas naquele dia, mas dali pra frente, sua vida mudaria um pouco.

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